quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

INJETANDO CULTURA NA MODA

Ele é expert em exposições e desfiles.
Amei a entrevista que Godfrey Deeny deu entre um desfile e outro no Fashion Rio.
Confiram

Moda

Godfrey Deeny

por Sarah Lee, redação ONNE



Editor do site Fashion Wire Daily diz que falta às semanas de moda brasileiras relacionarem-se com a cultura local





Godfrey Deeny nasceu na Irlanda, mora em Paris e trabalha para o Fashion Wire Daily, de Nova York. Editor europeu do site que é referência no jornalismo de moda, ele viaja o mundo cobrindo os principais eventos do gênero, escrevendo críticas dos desfiles mais concorridos e entrevistando as grandes personalidades da área.

Entre um desfile e outro no Fashion Rio Outono/Inverno 2009, Deeny conversou com o ONNE sobre seu trabalho e o cenário atual da moda; confira!

ONNE – Quais são as grandes semanas de moda que você cobre?
Godfrey Deeny - Eu vou para o Big Four: New York duas vezes por ano, Londres duas vezes, Milão quatro vezes e Paris seis: dois pret-à-porter, dois masculinos e dois de alta-costura. Uma vez por ano eu vou para Florence, para Pitti, o mais importante evento de moda masculina do mundo. Uma vez por ano eu vou para Moscou, pro Russian Fashion Week. Lá, também sou professor na Moscow State University; ensino luxury, branding. Eu venho ao Brasil uma ou duas vezes por ano. Já estive no Rio cinco vezes e em São Paulo, duas. No ano passado, estive no Claro Rio Summer. Então eu conheço o Brasil bem, até. O único outro lugar em que eu estive aqui foi Paraty - eu adorei, adoraria voltar e escrever um romance.


ONNE – Algum evento em especial que seja "o mais esperado"?
Godfrey Deeny - Eu acho que para as coleções femininas, há 10 ou 20 realmente grandes. Em Nova York é Marc Jacobs, em Paris é Balenciaga, [Louis] Vuitton, [Yves] Saint-Laurent, Chanel, Lagerfeld. Mas eu acho que o mais importante dos últimos cinco anos é Prada, em Milão: é o que mais influencia, o mais interessante, onde a moda se transforma em uma forma de arte, faz comentário sobre sociologia, idéias sobre o produto, tecnologia, nossos sonhos.

Para os homens, os cinco maiores são provavelmente Prada, Gucci, Saint-Laurent, John Galliano e, aqui no Brasil, Osklen. Oskar Metsavaht é um grande designer, o melhor estilista do Brasil. Seu estilo realmente influencia o jeito como as pessoas se vestem. Hoje eu vi dois desfiles muito bons: Redley e Mara Mac. Eles tinham arquitetura, jersey, ecologia e eu sinto a influência do Oskar nesses desfiles. Não estou dizendo que eles o copiaram, mas o espírito estava lá.

ONNE – E como as semanas de moda do Rio de Janeiro e São Paulo se comparam às grandes semanas mundiais?
Godfrey Deeny - Eu acho que Rio e São Paulo fazem um bom trabalho, têm espaços muito bons, boas mise en scènes, boa música, ótimas modelos. Se você tem um evento importante no Brasil, todas as grandes modelos voltam: Isabeli, Raquel Zimmermann, Raica, Gisele. Em Moscou, nenhuma delas volta. A maior modelo de passarela do mundo é russa, Natasha Poly. Ela abre mais desfiles que qualquer modelo brasileira e eu nunca a vi em uma passarela de Moscou. E o Brasil é muito internet-friendly. Não há sala de imprensa em Nova York, Milão, Moscou, Sidney. Depois do Big Four, o cinco e seis são São Paulo e Rio e depois Tóquio, Moscou, Índia.

O grande problema aqui é que eles não conectam culturalmente com o lugar. Em Londres, há esses novos estilistas. Quando eles fazem um evento, qualquer que seja a teoria - seja minimalismo gótico ou punk da Renascença - eles encontram um prédio que corresponde àquilo, o convite, o tema, idéias, a música, para criar um ambiente. Você não faz isso no Rio; faz um set legal, mas só.

Se você vai a um desfile do Galliano, com um tema egípcio, no backstage ele tem uma sala egípcia com múmia, afrescos, hieróglifos, a coisa toda. Eu não vejo isso em Brasil. Essa temporada tem o tema Lapa, cultura, mas não há nada relacionado! Quando eu venho ao Brasil, eu vou a Lapa, visito o lugar, mas não vi nenhum fashion show lá.

De manhã é bom, a primeira apresentação é sempre em algum outro lugar: a Tijuca, uma igreja, uma ruína história. Mas eu acho que eles precisam relacionar a moda como parte da cultura - parte da música, da arquitetura - e aí sim fica mais interessante. Nesse momento, isso não acontece, e isso não é bom.

ONNE – Ainda é possível identificar um look específico de cada país ou isso se perdeu com a globalização e troca de tecnologias e influencias?
Godfrey Deeny - Sim, ainda é possível sim. Em Nova York é practical sportswear. Cores fortes, coisas que você pode usar no escritório e ser fashion, muitas peças avulsas, nada muito louco. Em Milão, são os lindos tecidos, high-elegance, elegante, idéias simples. Em Londres, são roupas loucas, funky, coisas que a maior parte das pessoas nunca usaria. Você tem que ir a Londres pelo menos uma vez por ano, eu vou duas vezes. Um dos desfiles mais interessantes que eu vi no ano passado foi Christopher Kane, em Londres.

ONNE – E no Brasil?
Godfrey Deeny –
É tudo relacionado ao calor. O Brasil é muito quente, então tudo é uma referencia a isso. É sempre arquitetônico e sempre tem alguma decoração. A barra, finalização, renda, é um pouco de coisa demais. E tem sempre alguma abertura – a frente é aberta, as costas são abertas. É sempre ecológico de alguma forma, as cores, tem sempre muito verde – você vê mais verde no Brasil do que em qualquer outro lugar.

FONTE: ONNE

Sandra Deoli

2 comentários:

Janaina Salvego disse...

Sandra! Adorei a matéria!!!!
Achei ótimo ele falar dessa coisa de não relacionar a cultura com o q estamos apresentando... tb sinto falta! acho q poderíamos ter super-produções nos desfiles... é sempre a mesma chatice.... e a moda brasileira eh muito casual.... mesmo com esse estilo definido (verde/fendas/decotes/calor) gostaria de ver algo mais louco! mais passarela, tipo alta costura sabe! rs
outra coisa q percebo é q nas entrevistas todos os designers falam a mesma coisa.... a mulher tal* eh forte e tem poder aquisitivo alto! (tal* refere-se ao nome da marca)
como se nós simples mortais e grande maioria não fossemos dignas de sermos musas inspiradoras!

Sandra Deoli disse...

Jana,

Acredita que foi isso que pensamos quando fizemos Divas do Brasil... Nós baixinhas mortinhas não inspiramos?
Kê nada! Inspiramos é como? Sabe por que? Divas somos nós.